Carro de som chama a atenção?
Moro em um bairro majoritariamente residencial em São Paulo. Rodeado de prédios, quase não sobrou espaço para o comércio.
Então, a gente já se acostumou com carros de som por aqui. Eles vendem churros, ovos, pamonha, mais ovos, frutas, mais ovos novamente e “cândida, cândida, freguesa”…
Mas não acaba por aqui.
Tem o carro de som que divulga a feira livre de domingo, com barracas de frutas, legumes, pastel e caldo de cana. Programa típico para um paulistano de folga.
Calma, tem mais.
Tem o carro de som que divulga a feira gastronômica, todas as quartas feiras. Na feira gas tronômica tem barracas de frutas, legumes, pastel e caldo de cana. Ah! Pra não diferenciar da feira de domingo, tem barraca de Yakissoba, Hot Roll e Tempurá.
Imagine tudo isso que eu falei, até agora, com aquela voz de locutor bem animada. Decibéis acima do limite, que ainda nem sei dizer qual é.
Mas tem mais.
Tem o carro de som que divulga a barraca de pastel e caldo de cana, numa outra rua. Só pra não parecer que estamos num looping infinito de pastel de vento.
Eu sei, é bastante. Já teve até abaixo assinado digital, eu assinei, não aguento mais. Mas eu já me acostumei.
Até que então, enquanto eu estava numa reunião, um carro de som corta o bairro com som ensurdecedor. Era o dobro do volume dos outros carros, por isso me chamou atenção.
Rapidamente, descobri que era da quermesse da igreja do bairro. Como estava no limite do insuportável, liguei na secretaria da igreja.
– Boa tarde, gostaria de reclamar do carro de som que vocês estão passando pra divulgar a quermesse. Está num volume absurdo!
– Ah, desculpa. Tem um monte de gente ligando aqui. Vou ligar para o padre, ele é quem está dentro do carro de som.
Sim, carro de som chama a atenção.